segunda-feira, 26 de agosto de 2013

RAUL - PARTE I

Minha história com Raul começou como coisa de filme. Antes de vir morar aqui em casa, percebi logo de cara que era inquieto tão como um caboclo de macumba de linha preta, e depois soube que também servia de boneco de vodu, trazido pelos escravos da África. Daí o motivo de coisas estranhas em seu comportamento. Mas após várias peias e quase deportado pras profundezas de um abrigo, Raul com a voz embargada, contou-me em sonhos tudo o que aconteceu quando ainda era bebê. Confidenciou-me que antes de brigar com São Lázaro (que era muito cruel segundo ele), queimou um rato vivo e estripou um gato. Sufocou outro com um travesseiro sem sentir culpa ou remorso. Tentou queimar e explodir o abrigo de felinos abandonados. Mais tarde, praticou vários tipos de crime, de simples roubos a frigoríficos a atos sexuais. Tudo sem que haja um motivo, a não ser o puro instinto malino. Raul já nasceu com problemas estruturais. Já nasceu sentenciado a ser perverso, cruel, danado e destruidor.
Desde pequenininho, encrencava com os pais e também com os outros. Era algo tão grave e tão constante que o levou a ser internado num hospital psiquiátrico. De tão mau que não prestava, o tratamento nele acabou não surtindo o efeito esperado; sua mãe se sentia culpada e humilhada pelos outros, e, além disso, Raul - antes de se atirar no rio São Francisco e nadar até à margem - destruiu sua própria casa e mordeu a orelha de um amigo da família.
Raul quase nem dormia. Dizia que tinha muito medo de morrer. Enfrentou tudo e todos, se prevalecendo da lei que o protege. Os pais acabaram expulsando-o de casa por temê-lo. Daí em diante, Raul sumiu após decidir que era irrecuperável.
Hoje tenta buscar contato com a parentesca, mas só para prejudicá-los, pois senti culpa e saudade, mas diz que não volta mais ao seu antigo lar...

(Alex Contente)

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