terça-feira, 7 de outubro de 2014

VELHA INFÂNCIA

Dona Vera, com todo sufoco, ainda criou um filho adotivo, Isaías (na foto)
Hoje faz 2 meses que minha vó nos deixou. Partiu aos 87 anos. Viveu muito e talvez tenha sido feliz em sua vida cheia de lembranças por que lembro bem quando ela rememorava seu passado, era algo não muito prazeroso. Presenciei minha vó já bastante envelhecida e sem forças para caminhar (parecia ser levada por anjos invisíveis segurando em suas mãos), assim também como vi minha vó sofrer as limitações devido a idade.
Mas aprendi com ela a beleza de não pular do barco quando ele começar afundar, aprendi com minha vó que a solidariedade existe. Ela me ensinou ser solidário, estender a mão sem nunca esperar nada em troca. Se precisar passar fome, mas nunca deixar de ajudar alguém que possar ter em si a dor da fome. Vi muitas vezes ela ajudando pessoas, algumas vezes também sendo ridicularizada por essas mesmas pessoas que estendia a mão, mas nunca guardou mágoas. Éramos pobres, nossa casa sempre esteve de portas abertas para muita gente, mas ela tirava o pouco que tínhamos e dividia com quem precisasse.
Depois de sofrer uma queda no banheiro, minha vó foi levada ao hospital onde ficou internada até morrer. Apesar de tanta dor e uma vida cheia de altos e baixos, morreu como viveu: uma infância sem infância, uma juventude sem juventude, uma velhice sem velhice. Calou-se e se foi. Para nunca mais voltar...



(Alex Contente)

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