POESIA ( NÃO ESPETO NADA )

FUZILAMENTO ÍNTIMO

De braços abertos para o rio Parnaíba.

Amanhece e nada parece ser normal. O dia de hoje não favorece o amanhã. Fiz trato de mil vidas com a sorte. Terra de longe, dos meus absurdos, das minhas pragas, das minhas palavras. De palavra em palavra, que é a minha única roupa.
Dias e noites intermináveis, de momentos infindáveis. Me debruço num tempo sem paz, adormecido nos seios das horas acordadas de tantas madrugadas.
Tomo meu café com leite, sinto dores no estômago, dores de um homem comum, poeta de uma outra esquina. Nas ruas por onde ando me encontro entristecido nesta minha idade doente. Feridas no corpo, carne ao preço de nada...

(Alex Contente)

SEI QUE SOU TOLO

Vó, queria ser cantor (ter uma voz incrível) só pra te impressionar. Ir até ao seu leito com uma bandeja de café cantando a música que você mais gosta, tomando cuidado pra não lhe assustar. Mas antes, te fitaria dormindo por alguns minutos, depois iria até o jardim te traria flores, tulipas vermelhas, só para descontrair. Durma e sonhe porque a vida é uma grande brincadeira que nos remete aos melhores e inesquecíveis dias de nossas vidas. Estar ao seu lado que seja cada dia melhor. Que seja maravilhoso sempre. Minha rainha é uma graça... que ajuda, que briga, que aconselha, que sonha, e que - acima de tudo - é vó, é mãe, é pai, é bisavó, é tudo que ela quiser...

(Alex Contente)

NÃO ME ABANDONE MINHA VÓ

Esses dias tenho chorado bastante. Chorei muito. Depois, chorei por ter chorado. Como num raio de 360 graus, volto a chorar. Desta vez, choro pela volta da minha vó ao CTI, agora entubada. Quanta dor. Meu coração neste momento chora porque não tem condição de bater. Choro porque já não posso mais dizer: faça-se em mim!

Ontem à tarde fui visitá-la na enfermaria e vi que ela não estava bem. Hoje pela manhã recebo a notícia de que ela havia sido transferida novamente para o CTI, respirando com ajuda de aparelhos.
Estou triste demais. Relutei em postar esta foto, mas depois resolvi compartilhar essa dor (com os amigos de perto e os de longe) que está me matando por dentro. Preciso de muita força.
Infelizmente não sei rezar como minha vó sabe...

(Alex Contente)

'ABAIXAMOS AS CALCINHAS. E AS CUECAS, TAMBÉM'

Ensaio nu? Ops, mostraram. Estão querendo chacoalhar a loja toda: leva tudo, leva tudo!
Os pretensiosos maridos conseguiram murmurar “tudo de bom” - num som abafado que já deve estar fazendo fila - e vibrando muito: ai, gente pelo amor de Deus, é a fila mais legal do mundo!
A fila deve estar bem grande e nessa hora vale a pena usar um fast-pass que vibra quando chega sua vez. Também seja possível tirar fotos e fazer filminhos curtos, sem obscenidades.
O Facebook (que daqui há algum tempo terá concorrente à altura com a vinda do Fuckbook) não apresentou nenhuma queixa quanto à liquidação das calcinhas à mostra! Até os cuecas moralistas (incluindo alguns comerciantes que não têm sequer vocação para vendas) se melaram com a propaganda ventilada com as várias opções de rendas.
Nas ruas, as feministas (parece haver um consenso sobre a chatice delas) com vontade danada de soltar o cacete nos locutores serelepes que anunciam a troca urgente da calcinha velha pela nova: Todas com dinheiro na mão, calcinha no chão!
Ou no comercial de tevê, na voz do Cid Moreira: 'Abaixamos as calcinhas' enquanto você, cliente, controla o riso ao mesmo tempo em que a campainha toca. Não precisa bater. É só entrar! E mais: 'Abaixaram as calcinhas' dará um cupom para concorrer a um orgasmo. O sorteio será de cabeça baixa. Bom gozo, digo, boa sorte! No mínimo seria provocante, não?!
Ai que curiosidade: Será que existe alguma cliente freira na loja? Se tiver, com certeza haverá água benta nas calcinhas para afastar os pecados! A não ser que a irmã adentre apenas por uma questão de ordem religiosa, tão somente para adquirir o produto. Ai que curiosidade! Na dúvida, irmãs, freiras, madres, é melhor ter muito cuidado ao entrarem na 'Abaixamos as calcinhas'.
Já que diz muito sobre a personalidade da mulher, então haja estoque de 'cobre a macaca' na 'Abaixamos as calcinhas'.
Se você não está feliz, vá lá fazer a pechincha entre uma calcinha e um arriar. Baixar uma calcinha pode ser um poderoso antidepressivo, daqueles que Alexandre (não eu, muito menos o amigo Pedro mas o outro xará) o Grande sentiu ao governar todas as terras. Dê mais valor ao produto ficando barato. Vista-se se vestindo despindo.
Já tem até criolo doido pensando em fazer uma bombástica parceria ancestral bem defronte da 'Abaixamos as calcinhas'. Uma espécie de convênio de uma filial de moda masculina com tendências femininas para complementar a acirrada e possível receita de cama, mesa e banho com singelo nome de 'Abaixamos as cuecas, também'. Essencialmente um anexo de uma loja masculina que evolui para um âmbito misto familiar.
Tidizê, isso que eu chamo de manjar de propaganda de cunho íntimo.
Pelo exposto, a calcinha tem uma capacidade mágica de fazer escrever uma crônica que vai ajuntar-se a livros como O Bom Comprador. Quem sabe não vira best-seller do momento?!
Tudo bem, se essa escrita estiver solta, você poderá pensar em bobagens. Mas, se ela estiver dentro do contexto meramente comercial, você me levará do nada pra lugar nenhum...

(Alex Contente)

QUE SUA CIRURGIA NO FÊMUR SEJA UM SUCESSO

Sabe vó, não consigo dormir cedo nem ser espiritual. Até tento, quem sabe um dia resolvo esse lado. O silêncio da noite é quase imperceptível a quem quer sonhar.
Sendo seu neto dá uma tremenda vontade de ser Kafka e morrer escrevendo cartas.
Minha vó, deixei de me preocupar com coisas banais: passo o dia pensando nas pessoas de que gosto muito. Às vezes também acho o mundo horroroso porque só morre gente boa, gente que faz o bem.
Eu, contudo, ainda continuo acreditando nessas ursas maiores e menores que regem o universo.
A senhora me ajudou muito, deu-me oportunidade de estar no palco da vida. Assumiu o árduo compromisso de ensinar de uma forma diferente, divertida, dramatizada até, por meio de seus cuidados. Amou os netos o melhor que pôde. Tenho certeza de que era isso que nós (netos) sempre precisávamos. Acredite, continuamos existindo, e você continuará dando-nos conselhos. Fique bem, minha vovozinha. Que esse maldito lobo mau passe longe. A vida está aí, como um presente da Força Suprema.
Cada pessoa gosta como quer, né vó?! O gosto é pessoal e independe. Meu coração tem tanto pra te falar. E agradecer.
Este texto não foi escrito com o toque dos dedos. Foi composto pelo bater das lágrimas no teclado. Quanta dor... Olha, foi a senhora que me criou, viu?!
Vó, estou aqui de novo pra te agradecer por tudo que fizeste pelos seus três estabanados netos.
E respondo com toda convicção - para qualquer incauto de plantão - que fui um bom neto.
São meus carinhos para deixar o lar doce lar ainda mais uma belezura quando voltares! Ansiosamente, lhe espero. Beijos infindáveis!

(Alex Contente)

O TEMPO NÃO PARA

E não pode mesmo parar. Enquanto muitos são velados neste momento, outros nascem. Neste momento, as pessoas caminham de um lado para outro. Na pista, os ônibus circulam livremente; nas esquinas, os vendedores disputam fregueses; nas escolas, professores ensinam em horário integral; o carteiro, num vaivém frenético, corre em busca do destinatário. Amanhece. Anoitece. Faz sol. Cai chuva. E neste momento alguém sendo velado em algum lugar do mundo.
O tempo não para. E essas pessoas que estão sendo veladas neste momento? Ah, depois de três dias ninguém lembra mais. Só o tempo para trazer as lembranças...



(Alex Contente)

POESIA ( MORTE NO HOSPÍCIO )

RESULTADO DA COPA

Brasil não foi hexacampeão mas ficou em quarto lugar. Dilma foi vaiada mas não apedrejada. O brasileiro nunca vai aprender mesmo o Hino Nacional. Os japoneses levaram o seu próprio lixo. Alemanha é tetra sem Hitler. Argentina dançou o último tango no Brasil. O Fuleco, coitado, levou o farelo. Hoje é o dia do Rock - o sonho ainda não acabou. Daqui alguns dias (só esperar pra gozar) é o do Orgasmo. Então, por que levar a vida tão a sério?



(Alex Contente)

POESIA ( ALEGRIA DESCONCERTANTE )

POESIA ( LUA NAS SUAS FASES )

POESIA ( BEBO PARA O ESPÍRITO )

UM RETRATO DA ALMA NORDESTINA

Patativa do Assaré era poeta da roça, músico, compositor e conseguiu o que poucos artistas conseguem: virar lenda. Ao lado do companheiro Luiz Gonzaga, é uma das figuras mais míticas do Nordeste Brasileiro. De sua autoria, a canção A Triste Partida (uma das mais belas em Língua Portuguesa) foi imortalizada na voz de Mestre Lua, que conta a odisseia de alguns nordestinos que viajavam para São Paulo e lá encontravam uma realidade mais perversa que a vivida no Nordeste.
Que falta faz a ausência de nosso Cabra da Peste do Ceará, eterno cantador da existência. O nosso grande e saudoso Luiz Gonzaga nunca foi tão feliz quando interpretou o hino dos retirantes nordestinos!
Deixo meu protesto: Cante lá que eu canto cá.

(Alex Contente)

POESIA ( SILÊNCIO E GRITO )

TREM SEM DESTINO

A vida é como um trem sem fim
Se morrer, o caminho perde o trilho
A vida deixa de ser destino
Para quem anda pisando por entre espinhos
Apoiado em abrigo
Sofrendo riscos
Cheirando flores
Aquém do perigo
No meio do nada
Lá vai o trem sem destino
Com a morte em tudo...

(Alex Contente)

MISÉRIA ESTAMPADA

Todos os dias pessoas são assassinadas pelo reinante tráfico de drogas, pela violência desenfreada do caótico trânsito. Pessoas que morrem nos corredores dos hospitais, morrem por falta de leito, morrem pelo silêncio, morrem pela perversão da escassez.
A miséria estampada com ostentação para a manutenção do poder, com prazer pervertido para os que assistem em camarote, achando que não fazem parte da mesma cooperativa tragédia.
A destruição humana servida com a tranquilidade de quem pelo outro só tem uma única razão - a indiferença.
Perdeu-se há muito tempo o respeito pela vida...


(Alex Contente)