quarta-feira, 6 de maio de 2015

TRISTE FIM

Ladrão invade tua casa e leva bolsa tiracolo, tablet, carteira profissional, identidade, cartão de loja, tesourinha amolada e uma pena de galinha (sim, isso mesmo, que servia exclusivamente para coçar ouvido).
Ainda era cedo: 8 horas. Poderia ter levado mais coisas, porém, o lar doce lar na hora reclamou.
Arrombou a porta como um morcego. Adentrou o imóvel com a cabeça carregada de tantos pensamentos tortos. 
Não limpou os pés ao entrar mas deixou as marcas do chinelo como forma de compartilhar o sentimento de culpa. Fez questão de esquecer que o amor é mil vezes maior que a maldade.
O larápio virou as costas para Deus, fez pacto com satã e marcou encontro com a sorte. Sem máscara e sem pudor, declarou guerra consigo mesmo, arriscando faturar em cima da desgraça alheia.
Diante da impotência, ele leva também tua dignidade por alguns instantes, abandonando-a por aí num canto qualquer da própria revolta.
Lamentou apenas não ter levado todos os discos e livros da estante, provavelmente porque não teria forças o suficiente para carregar tanto conhecimento e arte nas costas. Mas vislumbrou, com razão, a pintura da mega artista Nua Estrela​ - tchê de luz própria - pendurada na parede.
Fugiu bailando como uma borboleta.
O ladrão - que um dia teve um coração - ainda levou meu perdão... E agora? Agora, sem alma, talvez o meliante esteja pronto para outra empreitada, consumida na morte.

(Alex Contente)

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