terça-feira, 12 de maio de 2015

GUAMÁ ROCKBLUES

Moro no bairro fêla da puta de gente que só nasce com cara virada pro lado esquerdo.
Gente que já nasce com cara revoltada, de alma abortada.
De gente que ouve música, mas não ouve seu coração.
Moro no bairro onde o tempo parece confortável, onde a morte parece viver. 
Onde todos esperam novas possibilidades, velhos anseios.
Bairro onde a bundinha no shortinho reina absoluta nas feiras e nos supermercados.
Moro no bairro onde gente espalha fofoca como gato espalha merda pelo chão.
Moro no bairro onde as pessoas sufocam como se quisessem estrangular. 
Moro no bairro onde o carnaval parece que nunca passou.
Moro no bairro onde a boca só tem gosto de sabão e os endereços não têm fim.
Moro no bairro em que o medo fica próximo do bar da esquina, os sonhos viram pesadelos e os cabeludos ficam carecas de saber.
Moro no bairro onde a gente chora mais que ri, espanta mais que canta e implora mais que ora.
Moro no bairro onde a chuva molha mais dentro do que fora, onde as feridas não se cicatrizam.
Moro no bairro onde a noite parece um circo.
Moro no bairro onde velam você. Vivo.
Moro no bairro onde a saudade mata a gente...

(Alex Contente)

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